quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Não sou de ferro!





A vida está tão corrida que não tenho me encontrado. Não tenho me amado como deveria. Em tempo de "selfies", não tenho tempo sequer de me olhar no espelho, sem pressa. Vivo numa cobrança absurda que cansa não apenas meu corpo, mas o meu coração. Algumas vezes parece que sou invisível para as pessoas que me cercam, como se eu fosse um robô e não sentisse o que todos sentem. Como se não me sentisse cansada, não precisasse de colo, de atenção, de alguém que me perceba mesmo quando eu mesma me despercebo.

O trabalho, a rotina doméstica, os estudos, a família e todos os detalhes que se tornam grandes, ali e acolá, têm me afastado muito de mim mesma, das minhas preferências, das coisas que gosto e preciso. Mas, para muitos, isso é bobagem, é reclamar de “barriga cheia”. Sinto como se andasse em círculos, sozinha e incompreendida. Talvez a culpa seja também minha, que não me coloco como pessoa, como gente, como ser humano que também merece ser cuidado. Não peço mais horas no meu dia, peço mais vida nas minhas horas. Vida de verdade, vida que faz feliz, vida que vale a pena viver. Minhas vontades sempre ficam para segundo plano e, raramente acontecem. Quando paro para perceber, já é noite, todos já dormem tranquilos e satisfeitos, mas eu não dei conta de fazer uma bobagem que fosse por mim. Minha felicidade tem sido satisfazer os que amo, os que precisam de mim. Os dias passam e só tenho acumulado cansaço e desentendimentos. Sou muito para os outros e quase nada para mim.

Ando exausta de carregar pesos que não são meus. Tenho feito um esforço fora do comum para dar conta da rotina que me exaure, mas parece que ninguém vê, ou finge. O que é bem pior. Se eu sair da linha, um milímetro que seja, sou criticada até pelo padeiro que mal me conhece. Não posso me estressar e não posso errar, porque parece que não tenho esse direito. Viro-me nos trinta, e ainda tem gente que acha que é pouco. Não vivo repetindo minhas insatisfações em todo lugar que chego, mas só eu sei os leões que tenho enfrentado. Tem horas que sinto vontade de comprar passagem só de ida para o outro lado do mundo, apenas para me reencontrar e estocar minha alma de paz.

Tenho engolido tantos sapos que já não aguento uma mosca. Tenho segurado tantas lágrimas que não suporto ouvir resmungos por um cisco de quem só se preocupa com o próprio umbigo. Preciso urgentemente estabelecer limites em mim e nos outros. Sou uma pessoa e, enquanto possibilito boa vida para muitos, tenho apenas existido. Sorrindo o sorriso dos outros, diminuindo a carga dos outros e ignorando as minhas próprias cargas emocionais. Ninguém é respeitado quando tudo aceita, embora tudo sofra. Amo as pessoas, mas necessito me amar. Assumo minhas responsabilidades, mas também tenho uma vida para viver. Dá licença?

Quem puder entender que fique. Quem não, que se vá. Sinceramente, já deveria ter ido.

Aninha Ferreira
Imagem: Google

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